Sobre a Gifu Kenjinkai

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O que é?
A Gifu Kenjinkai do Brasil é uma Associação sem fins lucrativos que visa o intercâmbio entre Japão (Gifu) e Brasil.

 

A “Gifu Kenjinkai” no Brasil
Após um longo período de isolamento, o Japão buscava a abertura ao Mundo, neste contexto foi criado um plano de governo incentivando a migração para fora do país. O primeiro registro de imigração japonesa no Brasil está datado em 18 de Junho de 1908, quando chegou ao porto de Santos (SP) o navio “Kasato-maru”, que partiu o porto de Kobe (Hyogo) em 28 de Abril. No Brasil a escravidão havia sido abolida em 13 de Março de 1888, ou seja, apenas 20 anos antes da chegada dos 781 imigrantes japoneses. A primeira imigração dos provincianos de Gifu foi em 1913, quando 11 famílias (44 pessoas) partiram o porto de Kobe em 30 de Março e chegaram em Santos no dia 15 de Maio, no navio “Wakasa-maru”. Depois disso, apesar de em pequena escala, a imigração dos provincianos de Gifu continuou por alguns anos.

 

   
Moeda Japonesa de 500 Yens e Moeda Brasileira de 2 Reais
Em Comemoração ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, foram emitidas nos 2 países moedas comemorativas com a imagem do navio “Kasato-maru”

 

  Navio “Wakasa-maru” em cartão postal

Os imigrantes se espalharam pelo extenso território brasileiro, que é aproximadamente 23 vezes maior que o do Japão, e enfrentaram condições severas de sobrevivência. Os imigrantes logo no começo já depararam com a barreira do idioma “brasileiro”, e consequentemente dificuldades para obter informações e se comunicar. A vida em um país totalmente diferente: costumes, idioma, moradia, trabalho… A única opção na época era ter esperança e trabalhar. Por esse motivo, os pioneiros se juntaram e criaram grupos para compartilhar os mesmos costumes, dialetos e valores, e também manter um elo com a terra natal. E este grupo de conterrâneos foi evoluindo para a forma de um “Kenjinkai”.
É difícil uma definição geral para os Gifu Kenjinkais existentes ao redor do Mundo. No caso da Gifu Kenjinkai do Brasil, pode se dizer que é uma associação de conterrâneos originalmente formada para confortar a nova vida no novo país. Atualmente a Gifu Kenjinkai do Brasil, através dos intercâmbios cultural, econômico, técnico e humano, se tornou uma entidade sem fins lucrativos e voluntária que visa a colaboração nas relações entre Brasil e Japão. Por exemplo, pode se dizer que a intermedição nos tratados de cidades-irmãs é um dos trabalhos típicos de um Kenjinkai.

  • Cidade de Seki
    Mogi das Cruzes – SP
    Tradado assinado em 20 de Maio de 1969
  • Cidade de Gero (antiga Cidade de Osaka-Cho)
    Salesópolis – SP
    Tradado assinado em 13 de Dezembro de 1976
  • Cidade de Nakatsugawa
    Registro – SP
    Tradado assinado em 04 de Agosto de 1980
  • Cidade de Gifu
    Campinas – SP
    Tradado assinado em 22 de Fevereiro de 1982

 

A Fundação da Gifu Kenjinkai do Brasil
Por não haver registros da época, a data exata da fundação da Gifu Kenjinkai do Brasil é incerta. Porém a teoria mais provável é a partir da criação da Associação “Zaihaku Gifu Kenjin Shinbokukai” (在伯岐阜県人親睦会, tradução literal: Associação Confraternização dos Provincianos de Gifu do Brasil) em Julho 1938. A idéia em si aparenta ter surgido em 1935, porém acredita-se que foram necessários 3 anos para pesquisar e localizar os provincianos de Gifu que estavam espalhados pelo Brasil.
Em 1941 iniciou a Guerra do Pacífico, e no ano seguinte o Brasil alinhou-se aos Aliados. Assim, foram impostas restrições sobre a população proveniente dos países do Eixo (Japão, Alemanha e Itália), ficando proibido qualquer tipo de evento ou reunião. Alguns japoneses da cidade de São Paulo ainda conseguiam manter contato, porém os que estavam distantes da cidade praticamente se isolaram, perdendo totalmente o contato. A rendição do Japão em 1945 deu fim à Segunda Guerra Mundial, porém conflitos sangrentos ainda ocorreram entre os japoneses do Brasil. Na época as notícias eram incertas, fazendo os japoneses do Brasil se dividirem em 2 grupos: o “makegumi”, que aceitou a rendição japonesa como realidade, e o “kachigumi” que ainda acreditava na vitória do Japão. Acredita-se que as tensões continuaram até meados de 1948.
Em 1946, com o fim da lei de restrição, os japoneses do Brasil recuperaram a o direito de realizar reuniões e a liberdade de expressão. Os japoneses que moravam na cidade de São Paulo começaram a formar novamente os grupos conforme a província de origem. Os provincianos de Gifu também retomaram as atividades formando o “Zaihaku Gifu Kenjin Yuushikai” (在伯岐阜県人有志会, Associação dos Simpatizantes Provincianos de Gifu) em 1949.
Em 28 de Abril de 1952, com o Tratado de San Francisco (Tratado de Paz com o Japão), as relações diplomáticas foram oficialmente recuperadas. No entanto, mesmo antes do Tratado, a imigração era possível com algumas restrições. Em 1948 o governo brasileiro já autorizava a entrada de imigrantes japoneses, desde que já tivesse algum parente no país. Assim, a imigração dos provincianos de Gifu teve reinício em Fevereiro de 1952.
A imigração até então era realizada através de empresas privadas, porém com o problema de superpopulação nas cidades japonesas no Pós-Guerra, o próprio governo passa a incentivar a migração a outros países. O Governo Províncial de Gifu também criou em Maio de 1950 a Fundação “Gifuken Kaigai Kyoukai” (岐阜県海外協会, Assistência Internacional da Província de Gifu) e se preparou para a onda de migração internacional que iria acontecer. Desconsiderando a imigração restrita a parentes, o primeiro navio de imigração coletiva com provincianos de Gifu (3 famílias) foi a “Africa-maru”, que partiu o Porto de Kobe em 28 de Maio de 1953. Posteriormente, apesar de em pequena quantidade, a migração dos provincianos de Gifu continuou, até que o Governo da Província de Gifu começou a estudar a criação de um escritório da “Gifuken Kaigai Kyoukai” em solo brasileiro para dar suporte aos imigrantes.
No final, o plano de um escritório brasileiro da “Gifuken Kaigai Kyoukai” foi abandonado. No entanto, a “Zaihaku Gifu Kenjinkai Yuushikai” foi transformada em uma entidade receptora e apoiadora dos imigrantes, renomeando para “Zaihaku Gifu Kenjinkai” (在伯岐阜県人会, Gifu Kenjinkai do Brasil).
Em 1969 o Estatuto da Associação (em japonês) foi revisado, e traduzido para o português em 1970, se tornando a primeira versão brasileira. O Estatuto foi registrado no 3º RTD (Registro de Títulos e Documentos e Registro Civil de Pessoas Jurídicas) da Cidade de São Paulo, com o nome conforme gramática brasileira “GUIFU-KENJIN-KAI DO BRASIL”. Posteriormente, no nome japonês o termo “Zaihaku” foi substituído pelo “Brasil”, adotando o “Burajiru Gifu Kenjinkai” (ブラジル岐阜県人会).

  • Julho de 1938
    • escrita em japonês: 在伯岐阜県人親睦会
  • por volta de 1949
    • escrita em japonês: 在伯岐阜県人有志会
  • Setembro de 1954
    • escrita em japonês: 在伯岐阜県人会
  • a partir de meados da década de 1980
    • escrita em japonês: ブラジル岐阜県人会
    • escrita em português:
      • Guifu-Kenjin-Kai do Brasil
      • Gifu Kenjinkai do Brasil
    • escrita em inglês: Brazil Gifu Kenjinkai

 

Informação adicional: “GUIFU-KENJIN-KAI DO BRASIL” e “GIFU KENJINKAI DO BRASIL”
O nome Gifu é pronunciado como “gui-fú”. Apesar das regras de romanização do alfabeto japonês (romanização Hepburn, Kunrei-shiki/ISO3602, Nihon-shiki, …) indicarem “GIFU”, inicialmente foi registrada oficialmente como “GUIFU” levando em conta a pronúncia em português, evitando confusões com os sons “gui” e “ji”.
Atualmente, a globalização tente a uma “padronização dos idiomas”. Por esse motivo a Gifu Kenjinkai do Brasil utiliza 2 formas. Para mídia impressa, que é praticamente todo voltado ao Brasil, está mantido o “GUIFU-KENJIN-KAI DO BRASIL”. Já, para Internet, onde não há restrição de nação, foi corrigido conforme norma adotada internacionalmente: “GIFU KENJINKAI DO BRASIL”, e até mesmo “BRAZIL GIFU KENJINKAI”.

 

Os Programas de Intercâmbio da Gifu Kenjinkai do Brasil
Na década de 1960 a imigração ao Brasil estava começando a diminuir, mas com a Exposição Internacional de Osaka em 1970, muitos imigrantes de Gifu aproveitaram a oportunidade e fizeram uma viagem de retorno para a sua terra natal. Assim foi se fortalecendo o elo entre os imigrantes e a Província. Um fato que representa o fortalecimento dessa relação foi a criação em 1969 do Programa de Bolsa de Intercâmbio Kenpi (custeado pelo Governo Provincial). Além da bolsa de estudo, outros programas envolvendo a Gifu Kenjinkai do Brasil e a Província de Gifu surgiram.
Com a crise japonesa no início da década de 1990, muitos programas de intercâmbio Brasil-Japão foram cancelados, e a Gifu Kenjinkai do Brasil também não foi exceção.

  • Bolsa de Estudo Kenpi (início em 1969)
  • Intercâmbio entre Jovens de Gifu e do Brasil (início em 1973, encerrado em 2008)
  • Convite a Imigrantes de Longa Permanência Provincianos de Gifu para Visita a Terra Natal (início em 1974, encerrado em 2004)
  • Expedição Internacional dos Alunos de Escolas Agrícolas de Ensino Médio da Província de Gifu (início em 1978)
  • Treinamento Técnico (Bolsa Kenshuu)  (início em 1987, encerrado em 2001)
  • Treinamento de Língua Portuguesa no Brasil para Policiais de Gifu (início em 1994, encerrado)
  • Intercâmbio entre Jovens de Gifu e do Brasil na Cidade de Gero (início em 1995, encerrado)

 

A Gifukenjinkai do Brasil também realiza outras atividades que não têm ligação direta com a Província de Gifu, como a publicação do Boletim Mensal, a Exposição de Arte, e atividades entre associados.

  • Boletim Mensal (início em 1991)
  • Participação no Festival do Japão
  • Apresentação de dança tradicional Gujo-Odori
  • Exposição de Intercâmbio Nipo-Brasileiro (início em 2006)
  • Atividades entre Associados: shinnenkai, bounenkai, passeio, etc… (início em 1938)
    shinnenkai: festa de ano novo
    bounenkai: festa de fim de ano

 

“Kenjinkais” Hoje
No início do século XXI a palavra “dekassegui” (brasileiros descendentes que iam ao Japão para trabalhar atraídos por salários altos) atingia o ápice das atenções. Assim, havia esperanças de que quando os dekasseguis retornassem ao Brasil, após um longo tempo absorvendo a cultura japonesa, a comunidade nikkei (日系: descendente japonês) iria retomar o ânimo que possuía na época antes da crise.
No século XXI, iniciando pela comemoração do “Centenário da Imigração Japonesa no Brasil” em 2008, cada Província atingiu o seu Centenário de Imigração e comemoração de Fundação do Kenjinkai. Recentemente houve a comemoração dos “120 Anos de Amizade Japão-Brasil” em 2015. Atingindo esses “anos-chaves” para reflexão, os Kenjinkais do Brasil atualmente enfrentam o fenômeno do envelhecimento dos imigrantes japoneses “issei” (1世: primeira geração) e da falta de uma função-chave dentro da sociedade. Não conseguindo acompanhar o avanço do mundo atual, os Kenjinkais sentem cada vez mais o declínio e a crise na continuidade.
Os Kenjinkais devem repensar na adaptação aos novos tempos, e no seu papel para a relação nipo-brasileira. E assim a Gifu Kenjinkai do Brasil tem feito. Para a Associação é importante a renovação e a introdução de novas idéias, e também a visão e o pensamento de cada um dos associados.
No Brasil a comunidade nikkei possui boa reputação. O Japão ainda tem muito a colaborar para o desenvolvimento do Brasil, através de seus valores e conhecimentos, como tecnologia, educação, arte, gastronomia dentre outros.

Cerimônia de Comemoração:
“80 Anos de Fundação da Gifu Kenjinkai do Brasil”
“105 Anos de Imigração dos Provincianos de Gifu”
“40 Anos de Expedição Internacional dos Alunos de Escolas Agrícolas de Ensino Médio da Província de Gifu”
realizada em Julho de 2018

 

 

Referência
岐阜県人ブラジル移住 年表1913-2013 (ブラジル岐阜県人会発行)
(Livro Cronológico da Imigração dos Provincianos de Gifu 1913-2013)